O percurso político da família Dialó/Lumengo na luta de Libertação Nacional
O pai de Ricardo Lumengo, foi um activo combatente na luta de libertação de Angola, contra o colonialismo português, tendo ocupado vários cargos de chefia, entre os quais o de Director Político do PDA (Partido Democrático de Angola).
A determinado momento da luta de libertação nacional, contra o colonialismo português (integração do PDA, na UPA, dando origem a nova sigla, FNLA), o pai de Ricardo Lumengo foi obrigado a deixar a família em Angola e a refugiar-se no antigo Congo/Zaire hoje RDC (República Democrática do Congo), para evitar ser preso pelas forças coloniais da epoca, a PIDE (polícia política portuguesa), continuando a partir do exterior, a luta de libertação de Angola, num contexto mais amplo (como quadro executivo). Inicialmente Presidente da JUPA/JFNLA (Juventude da União dos Povos de Angola, ou Juventude da Frente Nacional de Libertação de Angola) e depois como Vice-Presidente do MDIA.
- See MDIA, “Petition du Mouvement de Défense des Intêréts de l’Angola presentée à la commission de tutelle de la dix septième assemblée générale de l’Organisation des Nations Unies (ONU)” (New York, Nov. 28, 1962).
-Referência: John Marcum, The Angolan Revolution,
Volume I: “The anatomy of an explosion” (1950-1962)
e Volume II: “Exile politics and Guerrilla warfare” (1962-1976).
Ricardo Lumengo viveu em Lussenga e Maquela de Zombo de 1962 a 1966. As suas lembranças dessa época sobre Lussenga e arredores são mínimas, todavia as lembranças de sua casa e dos seus avós persistem. Não chegou a frequentar a escola primária da época.
Em 1966 Ricardo Lumengo foi obrigado a partir com a mãe e irmãs (na altura só tinha irmãs) para o campo de refugiados angolanos e também base militar de Kinkuzu (no antigo Congo/Zaire), onde o seu pai tinha sido detido, era membro da UPA/FNLA (Uinião dos Povos de Angola/Frente Nacional de Libertação de Angola) e tinha sido detido por ordem do Presidente Holden Roberto, por ter protestado abertamente, contra a política autoritária, tribalista e ethnocêntrica de Holden Roberto, em relação às outras tribos e etnias angolanas, que participavam também como membros da UPA/FNLA, na luta de libertação, mas que não eram originários da zona de Mbanza Kongo, nomeadamente os Bazombos (Bakongos originários da Província do Uige).
-John Marcum Volumes I e II (acima referido) e alguns jornais da época publicados no antigo Congo/Zaire.
Kinkuzu é um nome sinistro, pois está ligado não apenas ao nome de base militar central da UPA/FNLA, ou como campo de refugiados que saíam de Angola, que fugiam há repressão colonial portuguesa; mas sobretudo porque era a prisão política, onde eram detidos os angolanos que se opunham à presidência de Holden Roberto.
Emanuel Norma, tinha sido na época, companheiro de seu pai, na celula desta prisão de Kinkuzu, tendo conseguido evadir-se e juntar-se ao MPLA.
A família e Ricardo Lumengo, ficaram em Kinkuzu, durante todo o tempo de detenção do seu pai, de 1966 a 1973, com um estatuto especial o de “filho de prisioneiro político”!
Ricardo Lumengo, fez a escola primária e liceu, practicamente dentro do campo de prisioneiros de Kinkuzu. As aulas eram dadas em português, Kikongo e francês. Em 1973, Ricardo Lumengo saiu do campo de prisioneiros, de Kinkuzu, aproveitando uma amnistia feita por parte de Holden Roberto. A seguir o pai de Ricardo Lumengo, também foi libertado e novamente integrado na direcçâo da UPA/FNLA (em circunstâncias e condições pouco claras).
A família Dialó/Lumengo, permaneceu exilada no antigo Congo/Zaire, enquanto seu pai em 1974, seguiu para Luanda como membro da FNLA, para participar na abertura da delegação da FNLA e nas várias tarefas do Governo de Transição, para a independência de Angola.
Em 1976, a família toda regressa a Angola. Em Luanda Ricardo frequenta a escola de segundo nível “Juventude e Luta”, em Luanda. O processo do seu ingresso como membro da JMPLA, teve lugar no quadro da escola Juventude e Luta.
Depois, Ricardo Lumengo passou a pertencer à secção da JMPLA do bairro Samba-Grande que era o seu Bairro de residência e onde ainda hoje residem os seus pais e restante família.
O ingresso de Ricardo na JMPLA explicou-se como uma reacção contra o sistema e as orientações da FNLA em que tinha vivído no tempo da luta da Libertação Nacional. Dentro da JMPLA, Ricardo Lumengo descobriu a mensagem de igualidade, da unidade nacional e da tolerância éthnica e racial para todos angolanos.
Por seu lado, o pai de Ricardo, Miguel Simão Dialo, também tinha-se afastado da FNLA, ainda antes de regressar a Angola, devido aos confrontos políticos e militares, durante a fase de tansição para a independência de Angola, mas continuou sempre como um dos grandes defensores da cultura e dos valores dos bakongos. Não é por acaso que o pai de Ricardo Lumengo, continua a ser muito conhecido no meio dos Bakongos, em todo país.
Em 1982 em consequência de críticas permanentes e sérias ameaças provenientes de alguns membros da FNLA, dirigidos a Ricardo Lumengo e membros da sua família, por causa do seu ingresso e das suas actividades no seio da JMPLA e por outro lado também por causa da reacção de alguns membros do MPLA, encontrando-se no meio de um fogo cruzado, Ricardo Lumengo toma a decisão mais díficil da sua vida, o de abandonar o País e assim evitar represálias, com risco de vida, aos membros da sua família.
Apesar da carreira política feita na Suiça, Ricardo Lumengo nunca deixou de ser membro da JMPLA (MPLA), tanto é que, isso se explica pela sua orientaçâo política, sendo sempre dominado por um grande elemento social e humanitário. Além disso nunca pertenceu a nenhuma outra formaçâo política angolana. Manteve-se sempre fiel a si mesmo e aos seus princípios.
É necessário acrescentar que Ricardo Lumengo sempre que possível, e na qualidade de membro do Partido Socialista Suiço e de deputado do Palamento Nacional Suiço, sempre defendeu os interesses de Angola a nível bilateral com a Suiça, ou ainda a nível das Relações Internacionais.
Com a experiência política profunda, adquirida na Suiça, Ricardo Lumengo considera ter chegado o momento de disponibilizar os seus conhecimentos, contribuìndo assim para a prosperidade do seu País, do seu povo e do seu partido. Assim um regresso definitivo ao seu País de origem, não está excluìdo de todo.
